terça-feira, 1 de outubro de 2013

ONDE ESTÁ SUA CONFIANÇA?

Sua vida piedosa não lhe inspira confiança, e o seu procedimento irrepreensível não lhe dá esperança? "Reflita agora: Qual foi o inocente que chegou a perecer? Onde foi que os íntegros sofreram destruição? Jó 4:6-7
 
A teologia da prosperidade não é coisa recente. Existe desde os tempos do patriarca Jó. Aliás, como visto no texto acima, ele mesmo foi vítima desta teologia doente e patética.
A verdade é que a teologia da prosperidade não trata só de dinheiro. Emaranhada com a teologia da confissão positiva, ela apregoa que os cristãos não podem passar por dificuldades, sejam estas de ordem física,  emocional ou financeira. Se isso acontecer é sinal de que há algo errado com a pessoa.
Jó experimentou tudo, perdeu todos os seus bens (financeiro), todos os seus filhos (emocional) e sua saúde (física). Do ponto de vista da teologia de seus amigos, ele estava terrivelmente sob o julgamento de Deus, porque como eles mesmos disseram - qual foi o inocente que chegou a perecer?
O tipo de espiritualidade vivida pelos amigos de Jó era do tipo Rei e súdito ao invés de ser do tipo Pai e filho. Eles não conheciam a graça de Deus, viviam no tempo do olho por olho e dente por dente, viviam um relacionamento de barganha com seu Criador. Por isso erraram feio.
O primeiro erro foi achar que vida piedosa é capaz de gerar confiança em alguém. Não pode. Por mais piedosa que uma pessoa seja, seus atos estarão sempre aquém de um Deus que é perfeitamente bom e justo. Quando tentamos medir se merecemos ou não alguma coisa por aquilo que somos ou fazemos, sempre ficará uma ponta de dúvida: O que eu fiz terá sido suficiente para alcançar o favor de Deus? A resposta é não. Deus, por entender que nossa consciência sempre estaria contra nós, nos trata com graça e nos mostra que sempre nos amará independente do que possamos fazer ou não. Isto é consolo para aqueles que sabem-se incapazes e teste de humildade para aqueles que acham-se auto-suficientes.
Procedimento irrepreensível também não gera esperança. Esperança está relacionada com algo bom, mas que ainda não aconteceu, portanto, fora do nosso controle. Como um amigo sempre diz: "só podemos ter esperança naquilo que Deus realmente prometeu". Não podemos ter esperança no incontrolável, baseados em algo tão limitado como nosso procedimento. A única coisa que Deus prometeu de verdade é que estaria conosco, o resto é por conta e risco.
O último argumento de Elifaz é mais insano ainda. Ele diz que nunca viu um justo perecer e nem um inocente ser destruído.
Parece coisa de gente alienada, gente que não sai de casa, não assiste as notícias e não lê jornal. Muito parecido com o comentário de Davi - "Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua semente a mendigar o pão." Ou Davi nunca saiu do seu palácio ou fechava os olhos para as injustiças que aconteciam ao seu redor.
Comentário deste tipo é de gente que não tem o que falar, quer consolar mas acaba piorando as coisas, gente que não ousa questionar e aceita tudo que ouve de forma passiva e irrefletida.
Teologia deste tipo não cabe em um mundo onde bons e maus morrem de fome, sofrem das mais terríveis doenças, são vítimas dos crimes mais cruéis.
Por isso no capítulo 42 Deus fica indignado com Elifaz e seus dois amigos; porque falaram de Deus aquilo que Ele não era.
A Bíblia foi escrita para falar com o ser humano, gente como a gente, que sofre, chora, ri, tem sentimentos, e precisa ser consolado quando a vida lhe passa uma rasteira. Não com o consolo de Elifaz que só estava tentando comprovar sua teoria usando a desgraça alheia.
O consolo de Deus é um consolo de graça:
 
Eu estou com você e sempre estarei.
Isso que está acontecendo não foi promovido por algo que você fez ou deixou de fazer.
A vida às vezes prega peças, por isso não tente encontrar qualquer resposta para o seu sofrimento.
Não se culpe.
Entregue sua dor aos meus cuidados.
Deixe que meu Espírito lhe cure por completo.
 
Isto é evangelho. Isto é graça.
A graça de Deus cura e não adoece, salva e não condena, gera vida e não morte. Qualquer coisa diferente disso não é graça e precisa ser rejeitada.
Ainda tem muita gente vivendo a teologia dos amigos de Jó, se esmerando para tentar fazer coisas que mereçam a atenção do seu deus, esmagando-se psicologicamente na tentativa de entender os desfavores da vida, deixando de viver o maior presente de Deus para nós, a sua graça.
Se entregar à graça é encontrar a paz de espírito que tanto se procura. A paz que mal nenhum nesta vida pode tirar, porque é presente de Deus para todo aquele que o confessa.

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