sexta-feira, 14 de março de 2014

CONVIVENDO COM O DIFERENTE

"Naqueles dias, crescendo o número de discípulos, os judeus de fala grega entre eles queixaram-se dos judeus de fala hebraica, porque suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento. Por isso os Doze reuniram todos os discípulos e disseram: "Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra". Tal proposta agradou a todos. Então escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, além de Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom, Pármenas e Nicolau, um convertido ao judaísmo, proveniente de Antioquia. Apresentaram esses homens aos apóstolos, os quais oraram e lhes impuseram as mãos." Atos 6:1-6

Lá vou eu com meu coração peludo novamente tentar entender o texto.
Mas me respondam: Por que somente as viúvas dos judeus de fala grega estavam sendo esquecidas na distribuição do pão? Por que os apóstolos pedem para que eles mesmos resolvam o problema (escolham entre vocês)? Por que as pessoas escolhidas foram somente homens com nomes gregos?
A minha resposta é simples. Tratamento diferenciado já nos primeiros dias da igreja.
Um pouco de história para atualizar. Os judeus helenistas, ou seja, os de fala e costumes gregos haviam deixado a palestina por inúmeras razões, desde as vezes em que Israel fora levado como escravo por outras nações, até por questões comerciais e políticas. O fato é que, ao conviver com outros povos, acabou absorvendo seus costumes de alguma forma, e se tornando mais "abertos" ao sopro do mundo, diferentes dos seus irmãos que permaneceram na Palestina. Isto obviamente gerou desde sempre, uma certa rivalidade entre os dois grupos, que ao meu ver está evidente no texto em questão.
Já vi muito teólogo influente tentando salvar a pele dos judeus de fala hebraica (ou aramaica), onde estavam incluídos os doze apóstolos, querendo dizer que este problema não foi proposital. Não vejo razão para isso, porque acho que Lucas quis exatamente contar a história do jeito que ela foi, sem diminuir nem pôr, mas sendo o mais honesto possível com os acontecimentos, mesmo os mais desagradáveis.
Não há muito o que especular no texto. À medida que os grupos vão crescendo, vão aparecendo os problemas de relacionamento e consequentemente vamos expondo nossas fragilidades e nossos preconceitos. É fácil conviver com aqueles que são iguais, que pensam igual e sempre concordam conosco. Mas neste caso não há crescimento de nenhum dos lados.
É difícil conviver com pessoas que pensam diferente, que falam outra língua ou que têm coragem de nos interpelar porque não concordam com nossa posição. Neste caso, se houver discussão madura, haverá crescimento de ambos os lados do embate.
O evangelho de Jesus veio exatamente unir os diferentes. Colocar na mesma mesa da comunhão pessoas que pensam e reagem de forma diferente, e mostrar que aquilo que nos une é maior que aquilo que nos divide. O evangelho de Jesus veio provar que é possível conviver com conflitos de opinião, mas sempre tendo como ponto de elo o amor a Deus e o respeito ao outro.
Por isso, ao estudar este texto fiz-me uma pergunta: Como Jesus resolveria o conflito do problema da distribuição dos pães?
Veio-me à mente Jesus, calmamente se levantando, pegando a bandeja de comida nas mãos e servindo a todos sem distinção. Depois Jesus olha para as pessoas e pergunta: Vocês conseguem fazer isso? Se sim, então nós não temos mais um problema.

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