sexta-feira, 9 de novembro de 2012

SONHEI COM A IGREJA...

Hoje sonhei com uma igreja. Era diferente das que estamos acostumados a ver. Pra começar não se parecia com uma igreja tradicional. Era uma casa bem grande, com muitos cômodos, bem simples, mas bem confortáveis.
Tentei ver na fachada qual o nome impresso, mas não tinha nada escrito. Apesar disso, todas as pessoas com quem eu falava sabiam que lá era uma igreja.
A pessoa que tomava conta da casa era conhecida como "o irmão". Parece que ele tinha alguma patente eclesiástica, mas não gostava de ser chamado por ela, preferia apenas "irmão". Era casado e tinha 3 filhos.
O mais interessante desta igreja era que não tinha uma liturgia bem definida. De manhã sentavam-se em uma grande mesa, agradeciam pelo alimento e comiam juntos. Lembravam que suas vidas eram devidas a Jesus e ao que Ele fez enquanto esteve aqui na Terra. Lembravam também que foi pela sua morte que agora, eles estavam vivos. Às vezes cantavam alguma música, às vezes liam uma poesia, liam e comentavam um texto da Bíblia,  e às vezes partilhavam de alguma experiência, tudo ao redor da mesa; depois comiam contentes e satisfeitos.
Neste dia, depois do café da manhã, perguntei qual seria o horário do culto e o irmão me disse que haviam acabado de fazê-lo. Então comecei a entender algumas coisas.
Terminado o café, algumas pessoas foram limpar os banheiros, outras foram varrer o quintal, que aliás era bem grande e com muitas árvores, e outras ainda começaram a preparar o almoço.
Conforme as coisas iam acontecendo, algumas pessoas chegavam à igreja aparentando serem estranhas ao ambiente. A maioria estava mal vestida e mal cheirosa, como alguém que já há muito tempo não tomava um bom banho. Eram encaminhadas ao vestiário e podiam trocar as roupas sujas por outras limpas. Sentavam-se à mesa e também comiam.
Um senhor chegou muito doente, recebeu os primeiros socorros e foi encaminhado a um hospital que ficava bem perto.
E assim, um a um, ia chegando e saindo, pessoas sozinhas, famílias inteiras, outros que só queriam conversar e depois iam embora com um semblante de leveza no rosto.
Foi chegando a noite e percebi que a movimentação continuava. Perguntei quando a igreja iria fechar e o irmão com um sorriso paciente me disse que aquela casa jamais fechava. A qualquer momento do dia ou da noite, sempre teria alguém lá para receber qualquer um que chegasse cansado da vida, precisando de um banho ou um prato de comida, ou simplesmente um ouvido para desabafar.
Perguntei se pagavam por aquele tratamento e ele me disse que apenas se tivessem condição de ajudar com alguma coisa e se assim o quisessem. Disse ainda que apesar disso, nunca havia faltado o sustento da casa, e ele não conseguia me explicar como isso acontecia. Disse que a única exigência que faziam era que, saindo de lá, as pessoas deveriam prometer que fariam o possível para espalhar esse amor que haviam recebido e que lembrassem a outros que isso não era nada mais do que aquilo que Jesus mandou fazer.
E assim a igreja do irmão ia vivendo. Não era grande porque a maioria das pessoas só estavam de passagem, mas de uma forma geral, garantiam que aqueles dias passados ali, haviam mudado as suas vida para sempre.
Claro que haviam outros que mal agradeciam, mas ninguém se importava não, porque o Jesus a quem eles seguiam também havia passado pela mesma ingratidão. Nada ali era feito pensando em retribuição.
Naquele momento eu acordei, percebi que fora somente um sonho... eu estava ofegante, mas feliz.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O EVANGELHO DE JONAS: MISERICÓRDIA EM TEMPO DE ÓDIO

"Vá depressa à grande cidade de Nínive e pregue contra ela, porque a sua maldade subiu até a minha presença" Jonas 1:2

"Aquele que teve misericórdia dele, respondeu o perito na lei. Jesus lhe disse: Vá e faça o mesmo" Lucas 10:37

O livro de Jonas é escandaloso e provocante. Mostra Deus como realmente é em toda a sua graça em uma época em que a lei era olho por olho e dente por dente. Nínive era a capital da Assíria. O povo assírio era violento e desumano. Quando invadia um país, além dos costumeiros saques, impunha horror. Cometia as maiores atrocidades que a mente humana já conseguiu conceber. Pela lei lógica vigente, a retribuição para o povo assírio deveria ser a mesma, horror e atrocidade.
Mas Deus, em seu costumeiro modo ilógico de tratar com o ser humano, manda Jonas pregar para aquele povo porque Ele queria salvá-los. Fantástico, escandaloso, provocante e surpreendente é o amor de Deus. Ele inverte a lógica humana e faz o que ninguém seria capaz de fazer. Amar quem não merece. Amar gratuitamente a imagem mais grotesca e bizarra da humanidade.
Tanto Jonas como o mestre da lei foram nocauteados pelo amor de Deus. Estavam tão cheios de si, tão inchados em sua religiosidade mesquinha e egoísta que não podiam aguentar tanto amor. E Deus continua fazendo o mesmo ainda hoje com nossos egos obesos.
Podemos usar quantos argumentos quisermos. Podemos filosofar, arguir, refletir, ponderar, mas os textos soarão em nossas mentes como sinos ensurdecedores dizendo: prega contra ela...vá e faze o mesmo...
Assim são as boas notícias de Jesus: Como eu te amei, vá e faça o mesmo. Como eu tive misericórdia de ti, vá e faça o mesmo.
Talvez as boas notícias de Jesus não sejam boas notícias pra você. Talvez você, assim como eu, tenha momentos (não raros) em que o único sentimento é raiva, desprezo e vingança. Se é assim que acontece, fale isso pra Jesus, mostre a Ele a sua indignação e os motivos de sua ira. Seja sincero porque isto é legítimo.
Mas esteja preparado para viver experiências surpreendentes de manifestação de misericórdia e graça. Esteja preparado para amar de uma forma que você jamais seria capaz sozinho. Aliás, isso é algo que só o evangelho de Jesus pode fazer com o ser humano. Nenhuma religião ou filosofia é capaz disso porque a graça só é conhecida e manifestada pela pessoa de Jesus.
Experimente se deixar viver uma experiência de graça, porque Jesus continua dizendo: vá e faze o mesmo!

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

PROFETA FILHO DE PROFETA

"E veio a palavra do SENHOR a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença. Jonas 1:1-2

Poderia começar este texto com a música do Chico: O meu pai era paulista, meu avô pernambucano, o meu bisavô mineiro, meu tataravô baiano...
Adoramos genealogias. Valorizamos os sobrenomes, sobretudo os mais "importantes" e imponentes; os estrangeiros estão no topo da lista, como se isso nos fizesse pessoas melhores e de bom caráter.
Coisa de judeu.
Se você perguntar para um judeu autêntico, é bem capaz que ele saiba de que tribo de Israel ele pertence, mesmo que resida em outro país que não Israel.
Se Jonas fosse cantar a música do Chico, seria mais ou menos assim: o meu pai era profeta, meu avô também profeta, o meu bisavô profeta, meu tataravô profeta; porque naquele tempo, filho de profeta, profetinha era, ou melhor, naquele tempo não, ainda hoje é assim, ou não é?
Pra mim Deus não deixou esta frase "filho de amitai" porque Ele se importava com as genealogias. Deus deixou simplesmente para nos dizer que, apesar de profeta, filho de profeta, não exerceu bem a sua "profissão".
Se eu fosse me utilizar do modo de valorização que a maioria das pessoas usam estaria em maus lençóis. Meu pai era funileiro, meu avô era pipoqueiro e sapateiro, e a minha história termina aí porque em família de pobre quem quer saber quem vem de quem?
Apesar da minha genealogia "insignificante", um dia, sabe-se lá porque cargas d'água, Deus me disse que de alguma forma eu poderia fazer algo de bom neste mundo. Que mesmo não apresentando exímia capacidade intelectual, mesmo não sendo financeiramente abastado, mesmo não sendo conhecido e aclamado como formador de opinião, eu poderia fazer alguma coisa no seu reino.
E a boa notícia para os maltrapilhos deste mundo, nos quais eu me incluo é esta: Qualquer pessoa pode fazer alguma coisa boa neste mundo, basta atender à voz de Jesus: apascenta as minhas ovelhas!
Esta é a maravilha do evangelho. Você não precisa ser profeta filho de profeta, pastor filho de pastor, apóstolo filho de apóstolo para ser um propagador da boa notícia do reino de Deus . Basta ser gente e responder ao convite de Jesus: apascenta as minhas ovelhas!
Por isso, filho do funileiro, do médico, do sapateiro, do dentista, do pedreiro e do advogado, dentro de suas capacidades, dentro do seu círculo de convivência, você pode ser também um pastor de ovelhas, genuinamente falando.
Aliás, só vamos ser realmente pastores de ovelhas quando qualquer outro título ou "sobrenome" não fizer mais o menor sentido em nossas vidas, quando qualquer objeto de ostentação perder completamente o seu significado, quando deixarmos que as vozes de aclamação e bajulação se emudeçam completamente para nós, aí sim, estaremos aptos para cumprir o convite de Jesus: apascenta as minhas ovelhas!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

QUE HOMEM É ESTE?

Entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram. De repente, uma violenta tempestade abateu-se sobre o mar, de forma que as ondas inundavam o barco. Jesus, porém, dormia. Os discípulos foram acordá-lo, clamando: "Senhor, salva-nos! Vamos morrer! " Ele perguntou: "Por que vocês estão com tanto medo, homens de pequena fé? " Então ele se levantou e repreendeu os ventos e o mar, e fez-se completa bonança. Os homens ficaram perplexos e perguntaram: "Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem? " Mateus 8:23-27

Esta é a pergunta que todo cristão deveria fazer em sua jornada. E não fazê-la somente uma vez, mas todas as vezes em que sentir necessidade de testar a qualidade da sua espiritualidade. Falo assim porque pode acontecer que ao longo da vida percamos Jesus de vista.
Nesta pergunta se baseia toda nossa fé. O tipo de espiritualidade que demonstraremos ou o modo como nos relacionaremos com Deus está intrinsecamente ligado em como responderemos a esta simples questão. Para mim, quem é Jesus?
Se Jesus for para mim apenas um acalmador das tempestades mais turbulentas da vida, então só vou me lembrar dele quando a coisa estiver bem complicada. Enquanto estiver dando conta do recado não preciso dele; ele pode continuar dormindo porque nesse caso do meu barco cuido eu.
Se Jesus for apenas um cara bacana, que viveu neste mundo de forma incomum, que pregou a paz entre as pessoas e que ajudou muita gente e depois morreu, então Ele não poderá fazer muita coisa por mim já que está morto. No máximo, Ele me servirá de um bom exemplo de vida.
Jesus precisa ser tudo isso e muito mais. Ele precisa ser o meu socorro sempre presente na tempestade, mas também minha fonte de inspiração na calmaria. Ele precisa ser meu exemplo de vida e fé. Ele precisa ser meu irmão, conselheiro, meu redentor, o meu tudo.
Quanto mais caminhamos com Ele, mais cheio de significado Ele será em nossa existência. Quanto mais nos tornamos íntimos, menos medo do dia mau teremos, porque saberemos que, mesmo que pareça que esteja dormindo, no fundo de nosso ser, saberemos que Ele está velando por nós.
Foi por isso que os discípulos foram corrigidos por Jesus. Vocês não têm fé não?
- Fé pra quê? Pra dizer para a tempestade e para o vento se acalmarem?
-Não, para saberem que eu sempre estarei ao lado de vocês, mesmo quando for para o meu Pai.
Isto é maravilhoso. É assim que tem que ser nossa fé. Ela se faz viva quando entendemos que em alguns momentos não podemos fazer mais nada, mas sabemos que Jesus está ao nosso lado.
Quem é este homem que eu digo seguir? Quem é este que confesso ser discípulo?
A nossa resposta nos dará uma boa pista por onde anda nossa espiritualidade e nossa comunhão com o Cristo.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O ESCÂNDALO DA CRUZ

Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. 1 Coríntios 1:18-24

A mensagem do evangelho é a mensagem do Cristo crucificado e ressurreto. Não há outra mensagem que possa tirar o homem do seu processo de morte espiritual que o mantém longe de Deus. É assim que Paulo começa sua carta que tem a intenção de tratar um problema na igreja de Corinto, a divisão entre os irmãos.
Alguns, por possuirem uma situação financeira melhor, tratavam os demais com desprezo e descaso. Na própria reunião da ceia, onde se celebrava o Cristo ressurreto que morreu para de todos os povos fazer um, havia divisões, uns se banqueteavam e outros passavam fome.
Outros, talvez por não terem posses, usavam sua suposta "espiritualidade", para se mostrarem superiores aos demais. Esqueciam-se de que os dons não são dados por mérito, mas por graça de Deus.
Então Paulo começa o trecho acima demonstrando o paradoxo da mensagem da cruz que é exatamente o oposto ao modo de vida que aqueles crentes viviam.
A mensagem da cruz é loucura para quem está morrendo. Não deveria ser o contrário? Se estou morrendo e vem alguém me dizer que há um remédio que pode me salvar, não haveria eu de aceitar esse presente?
Mas o problema do homem é exatamente esse, aceitar que está neste processo de morte e que esse processo, no fim das contas será irreversível. Para aquele que está neste processo, esta mensagem se torna louca e insana.
Um outro obstáculo encontrado nesta mensagem é que ela se diz única. Todas as religiões que existiram em todos os tempos trataram as suas divindades em uma relação de troca e barganha. Para se alcançar o favor desta divindade devia-se oferecer algo em troca. Vem Jesus e diz que está tudo pago e você não precisa oferecer nada em troca. Aliás, nada do que você ofereça é capaz de fazê-lo se aproximar de Deus, porque de fato é Deus quem se aproxima do ser humano. Isto é fantástico, mas é escandaloso para um mundo onde as idéias de retribuição estão vivas dentro das pessoas em cada âmbito de suas relações.
O seu intelecto não é capaz de compreender a mensagem da cruz. Você precisa se convencer de que a simples inteligência é incapaz de reconhecer nesta mensagem a fonte da vida. A cruz nos faz despirmo-nos de tudo aquilo que nos dá orgulho, nossa inteligência, nossa cultura, tudo aquilo que temos ou que somos, tudo deve ser retirado ao nos chegarmos à cruz de Cristo.
Não há milagre na mensagem da cruz, pelo menos não nos moldes pretendidos pelos judeus. Jesus disse que o único sinal que haveria seria o de Jonas, ou seja, o sinal de sua morte na cruz do Calvário e sua posterior ressurreição. Nada mais. Não existe milagre em um homem carregando a sua cruz pelas ruas de Jerusalém com o corpo todo ensanguentado implorando por um copo de água. Jesus abriu mão de qualquer evento espetacular que o fizesse se libertar da cruz. Existe, claro, um milagre, mas não é espetacular no sentido visual da palavra (pelo menos não no início); este é o milagre do novo nascimento que se processa quando eu entendo que o sinal de Jonas foi por minha culpa. Mas antes disso, não há milagre, só há escândalo.
Por fim a mensagem da cruz diz que após a apropriação desta mensagem em minha vida eu preciso negar a mim mesmo, carregar a minha cruz e seguir a Cristo, e assim serei seu discípulo.
Carregar a cruz não é levar problemas da vida. Não é a doença, a dependência química do filho ou o marido alcoólatra. Carregar a cruz é se identificar com Cristo, e nós só conseguiremos essa identificação quando nos parecermos com ele, negando a nós mesmos e nos preocupando com o outro.
O carregar a cruz para Jesus significa entre outras coisas que Ele havia abrido mão de sua glória, de tudo que era e possuía quando estava com o Pai, para se preocupar com o ser humano, e não há outra forma de se identificar com o Cristo e ser seu discípulo se não fizermos o mesmo. E à medida em que vamos vivendo desta forma, altruísta e solidária, vamos ficando cada vez mais parecidos com nosso mestre ao ponto das pessoas não terem dúvidas quanto ao nosso discipulado.
A mensagem da cruz é radical e exige uma mudança radical de todo aquele que se identificar com ela. É poder de Deus para aqueles que vão sendo salvos.