quinta-feira, 12 de abril de 2012

O SERMÃO DO MONTE: MAMOM OU DEUS?

Mateus 6:19-34
Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam.
Mas acumulem para vocês tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam.
Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração.
"Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz.
Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que está dentro de você são trevas, que tremendas trevas são!
"Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro".
"Portanto eu lhes digo: não se preocupem com suas próprias vidas, quanto ao que comer ou beber; nem com seus próprios corpos, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante do que a comida, e o corpo mais importante do que a roupa?
Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas?
Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida?
"Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem.
Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles.
Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé?
Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer? ’ ou ‘que vamos beber? ’ ou ‘que vamos vestir? ’
Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas.
Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas.
Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal".

Jesus está falando neste texto da efemeridade das coisas deste mundo, de quão passageiras e frágeis elas são. Mais uma vez Jesus está tratando do coração do homem e mostrando de que tudo o que o homem faz e o modo como ele vive está intimamente relacionado com os desejos de seu coração. E como já vimos na semana passada, coração aqui é apenas uma metáfora do nosso intelecto. Para o judeu as emoções e intenções mais profundas nasciam no coração do homem; para eles o coração era o órgão do sentimento e a partir destes sentimentos reagiam ao mundo. Óbvio que precisamos entender isto como metáfora porque sabemos que tudo o que somos, pensamos e sentimos é processado pelo cérebro e tudo aquilo que o cérebro processa, é nada mais nada menos que as informações que ele recebe através dos sentidos. E este conceito é muito importante neste texto de Jesus.

No primeiro ponto Jesus contrapõe a efemeridade das coisas materiais com a eternidade das coisas espirituais. Do valor e da importância que damos às coisas materiais, daquilo que é palpável, daquilo que se pode corromper, e do valor e da importância que deveríamos dar às coisas espirituais, que Ele chama de tesouros do céu.

Primeiro precisamos entender que Jesus não está dizendo que é pecado fazermos previdências ou economias que nos deem uma garantia no dia de amanhã. Provérbios 6:6 diz o seguinte: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso; olha para os seus caminhos, e sê sábio”. O que Deus está dizendo aqui é nada mais nada menos que: trabalhe no dia bom para que tenha o que comer no dia mau. É isto que a formiga faz, trabalha no verão, ou seja, economiza, poupa, investe, para que tenha o que comer no inverno. Então este texto em hipótese alguma está dizendo que é pecado economizar, poupar, investir, garantir o futuro. Este texto está tratando, como já dissemos, do coração do homem. Você investe pra quê? Para ter uma garantia para o futuro? Para ter meios de ajudar o necessitado? Para que sua esposa tenha uma vida digna se você morrer antes dela? Ou você investe para ter simplesmente, porque é isso que te afirma como pessoa? Você controla seu dinheiro e seus bens ou você é controlado por eles? Você só se considera uma pessoa digna diante da sociedade porque você tem muito dinheiro, ou você construiu sua dignidade com trabalho e vida honrosa?

Jesus está querendo abrir nosso coração para nós mesmos para que através de uma autoanálise de nossas intenções, nós consigamos chegar à conclusão do que é que está por trás destas intenções.

Dentre muitas coisas que Jesus está querendo nos ensinar, uma delas é nos livrar da decepção do infortúnio. Por mais que uma pessoas tenha bens, posses e poder, um dia isto tudo pode desaparecer; nada que é material dura pra sempre. Quando falo nisso, me lembro de muitas famílias nobres que nosso país já teve e por causa de brigas entre parentes e má administração perderam praticamente tudo. Olhe para alguns países da Europa. Em Portugal por exemplo, pessoas que tinham muitos imóveis, hoje estão tentando vender tudo a preço de banana porque não valem mais nada. O seu sustento, a sua forma de sobrevivência simplesmente acabou.

Se o nosso coração e tudo aquilo que temos está baseado tão somente nas coisas que possuímos corremos um grande risco de nos decepcionarmos e, no extremo da decepção alguns não suportam e optam pelo suicídio, porque tudo o que possuíam eram coisas e coisas não duram para sempre.

Jesus quer nos livrar deste desastre de viver uma situação em que tudo o que dava sentindo à nossa vida se acabou.

Mas você certamente conhece muita gente que mantém a sua fortuna durante décadas ou mesmo séculos, e entra geração e sai geração, eles continuam tendo cada vez mais. Neste caso nós precisamos pensar na efemeridade da própria vida. Por quanto tempo essas pessoas tiveram estas coisas, 70, 80, alguns 90 anos. Jesus nos apresenta uma realidade de vida onde podemos ajuntar coisas que terão valor eterno para nós. Não durarão apenas enquanto estivermos vivos, mas terão valor inclusive depois de nossa morte.

No texto Jesus não explicita o que são esses tesouros celestes ou tesouros do céu, mas olhando para o contexto do sermão do monte e do ideal do reino de Deus podemos imaginar o que podem ser e o que Jesus tinha em mente quando disse isso. Baseado em toda a revelação que Deus nos deixou, o que poderíamos dizer que é importante para Deus sem sombra de dúvida, qual o maior tesouro para Deus em toda a sua criação? O homem é a resposta. Então fica claro que tudo aquilo que fizermos nesta Terra para a promoção da vida humana, estaremos cuidando do maior tesouro de Deus, por quem Ele entregou seu Filho. Em contrapartida, tudo o que fizermos contra a vida, estaremos fazendo contra Deus e contra seu maior tesouro.

Veja que extraordinário isto: podemos ser as pessoas mais ricas deste mundo e mesmo assim estar acumulando tesouros no céu, porque simplesmente não usamos nossa riqueza como autoafirmação, mas a utilizamos para minimizar a dor do necessitado, da maior riqueza de Deus. E da mesma forma podemos ser o mais miserável homem deste mundo e mesmo assim, o quase nada que temos, pode ser o nosso maio tesouro, tudo o que preenche o nosso coração.

A segunda ilustração que Jesus usa é fantástica. A meu ver Ele faz aqui uma inversão da situação. Ele mostra como o meu coração pode se encher de egoísmo, de vaidade tola e frágil e de como eu posso enganar-me a mim mesmo acreditando que eu sou aquilo que eu possuo. Por que existem pessoas que acreditam que serão felizes ou realizadas acumulando tesouros na Terra? Porque não souberam controlar seus sentidos e por isso permitiram que através deles, seu coração ficasse cheio de materialidade.

Jesus contrapõe a pessoa que enxerga bem, daquela que enxerga mal, e mostra que aquela que enxerga mal, não como uma deficiência da visão, mas como resultado de que enxerga as coisas erradas, como uma pessoa realmente cega. Se sua visão da importância da vida for equivocada, você será como um cego.

Para Jesus a pessoa que enxerga bem é aquela pessoa que entendeu que a vida é muito mais do que aquilo que ela tem, é muito mais do que seus bens e suas posses. Quando Jesus diz que por causa dos olhos o corpo será bom ou mal, Ele quer dizer que dependendo de como eu caracterizo as coisas e as pessoas na minha vida, de acordo com o grau de importância eu dou para cada uma delas, assim serão minhas ações, ou seja, eu vou agir de acordo com o meu critério de importância entre coisas e pessoas.

Eu estou cansado de ver na internet campanha para salvar, ajudar, adotar os animais, mas eu não vejo campanha para salvar, ajudar, adotar as crianças que estão jogadas nas ruas de nossas cidades. Não que eu seja contra os animais e a favor da crueldade que se faz com eles. O problema é que não vemos esta mesma preocupação com as pessoas. Animais são coisas e pessoas são pessoas. Jesus não morreu para os animais e sim pelo ser humano. Temos que cuidar sim dos animais e impedir que sejam hostilizados, mas em primeiro lugar Deus nos chamou para cuidar de pessoas, o seu maior tesouro.

O maior tesouro do nosso coração é o mesmo tesouro do coração de Deus? Preocupamo-nos com as pessoas como Deus se preocupa com elas? Precisamos pensar seriamente nisto porque isto é cristianismo. Cristianismo não é uma religião de teorias profundas que me faz viver experiências espirituais gnósticas e místicas para alcançar um estágio elevado de santidade e autocontrole. Cristianismo puro e simples é levar o ser humano a conhecer a Deus, e conhecendo a Deus e o que Ele é, o ser humano se conhece e se entende, e a partir deste conhecimento ele tem capacidade de conviver e aceitar o outro da mesma forma que Deus o aceitou. Em palavras bem simples, eu vivo o cristianismo quando tenho um relacionamento com Deus e com o meu semelhante. Se um destes pontos falhar, não existe cristianismo.

Jesus compara esta luta que existe dentro de nós com um deus e Ele chama este deus de Mamom. O Alexandre já falou aqui com muita propriedade que este é o único deus que Jesus citou e que é capaz de desafiar o seu trono em nossa vida. Mamom é o único deus que tem o poder de tirar Deus de nosso coração e tomar o trono e o controle de nossa existência.

Quantas vezes não ouvimos a expressão: o dinheiro mudou a cabeça desta ou daquela pessoa? Por que pessoas aparentemente íntegras e honestas, quando se tornam políticos se corrompem? Porque o deus mamom está dominando suas vidas e enquanto não tomarmos consciência de que todos igualmente estamos susceptíveis a este deus, corremos o risco de sermos dominados por ele, e neste momento Deus deixou o trono de nossa vida.

E aqui não estamos falando de perder salvação ou qualquer coisa do gênero, estamos falando de quem controla nossas ações. Se a nossa confiança neste mundo está no dinheiro, necessariamente não poderá estar em Deus, é simples assim.

Esta primeira parte deste texto quer nos confrontar sobre aquilo que tem o domínio sobre nós e sobre quem está a nossa confiança. Mas por mais que uma pessoa tenha total confiança em Deus e só nele, por mais que uma pessoa seja piedosa e sua fé esteja alicerçada somente na pessoa de Jesus, o texto nos mostra que mesmo esta pessoa está sujeita às intempéries da vida. Andar com Jesus não impede que tenhamos aflições, não impedem que nos sobrevenham desastres, não impedem que fiquemos desempregados ou que venhamos à falência. A única garantia que temos ao andar com Jesus é sabermos que Ele está andando conosco e que Ele vai suprir todas as nossas necessidades de subsistência.

Este texto tem uma profundidade extraordinária dentre todos os ensinamentos de Jesus. Extraordinária porque mexe com as nossas necessidades mais básicas, que é a necessidade de subsistência. Porque não há nada que incomode mais um ser humano do que a possibilidade de não ter ao menos o mínimo que seja para continuar vivo. E neste texto, Jesus quer mostrar que até este mínimo precisa estar sob seus cuidados. Como já dissemos, Jesus está conclamando os seus discípulos a uma vida de relacionamento profundo com Ele. Jesus não quer que eles continuem vivendo uma religião superficial e estéril. Seguir a Jesus implica em entrar na profundidade de um relacionamento sincero e de total entrega, o que é nada mais nada menos que a fé que tanto ouvimos falar e que é tão mal interpretada pela igreja de hoje. Fé não é um suposto poder que temos em nossas mãos que faz Deus agir quando e como queremos. Fé é acreditar que Deus é totalmente suficiente em cada pequeno detalhe de nossa vida o que inclui obviamente as nossas necessidades mais básicas.

Para alguns problemas de amplitude maior, podemos até ter certa facilidade de colocá-los nas mãos de Deus, exatamente porque são problemas grandes, de difícil resolução e que às vezes escapa ao nosso controle. Mas as coisas comuns e corriqueiras de nossa vida preferimos deixar sob nosso controle porque isso nos faz ficar mais confortáveis.

E por que sentimos assim? Porque quando decidimos deixar tudo, absolutamente tudo nas mãos de Deus, estamos declarando a Ele nossa total incapacidade de controlar qualquer coisa na nossa vida. Concordamos que até as pequenas coisas nos escapam o controle, que nem nossa própria subsistência está resguardada se Deus não for o Senhor de nossa existência. E queira o ser humano admitir ou não, este total esvaziamento de si mesmo é a parte mais dolorosa da caminhada com Deus; mas é exatamente nestes momentos de entrega que a fé verdadeira brota dentro de nós. Não é no poder que a fé se mostra, muito pelo contrário, é na fraqueza e na consciência desta.

A segunda parte deste texto que é a partir do verso 25, Jesus enfatiza e nos faz refletir e decidir sobre o que é mais importante no nosso conceito, a própria vida ou aquilo que comemos, o nosso corpo ou aquilo que vestimos. Estamos em uma era consumista onde os valores se invertem continuamente. Achamos mais importante a marca da roupa que usamos do que aquilo que fazemos com o nosso corpo. Para Jesus esta não é a ordem de valores que devemos ter. Em nossa era damos muito mais valor onde comemos do que propriamente aquilo que comemos ou com quem comemos. Jesus mostra que a vida é mais importante do que tudo isso. Se a vida é mais importante do que o mantimento e Deus cuida da vida das aves do céu porque andamos preocupados?

E neste cenário de preocupação e talvez desespero, Jesus nos convida a fazer algo totalmente incomum.

Em momentos de extrema preocupação, onde até o básico nos ameaça a faltar, a primeira reação que geralmente temos é ir à luta, correr atrás do prejuízo. É assim que o mundo nos ensina a vencer as questões materiais da vida. Então, começamos a falar com todo mundo tentando encontrar uma saída e na nossa cabeça traçamos muitas saídas que enganosamente achamos que Deus deveria seguir. Praticamente damos o mapa para Deus de como achamos que Ele deveria agir para nos socorrer. Usamos todos os nossos contatos, atiramos para todo lado para ver de onde virá o socorro. E neste momento de loucura desenfreada Jesus nos pede para fazermos algo atípico e quase insano. Ele diz: pare e contemple. Aí dizemos: Jesus, o Senhor não está entendendo, eu estou quase sem mantimentos em casa, as contas já venceram todas, faz um ano que não compro nem um par de meias para meus filhos, ou, minha empresa está a ponto de falir, não tenho dinheiro nem para pagar os funcionários, e ainda por cima a doença na família, a casa está caindo e o Senhor pede para eu parar e contemplar?

Parece loucura, mas é isto mesmo que Jesus nos pede, pare e contemple. Tente esquecer um pouco daquilo que te aborrece, daquilo que está lhe deixando louco e contemple minha criação. Não é perfeita? Você já viu algo semelhante a uma flor? Você já viu qualquer avião voar de forma tão perfeita e poética como meus pássaros? Eu acredito que na nossa era tecnológica, Deus nos convidaria a uma olhadela no microscópio para observar uma gota de água do rio e ver que lá existe um pequeno mundo, com seres microscópicos nadando e vivendo, tudo sob os cuidados de Deus.

E porque Jesus nos faria isto? Creio que é porque perdemos esta prática. Chamamos os grandes filósofos da antiguidade de ociosos porque eles gastavam horas e horas apenas contemplando, todavia, destas contemplações quanta riqueza não surgiu? Perdemos a prática da contemplação porque a criação se tornou demasiadamente comum diante daquilo que se tornou importante para nós. Atualizar o facebook se tornou mais importante que contemplar as coisas criadas.

Mas por que Jesus nos chamou à contemplação? Porque este exercício nos faz pensar em Deus, em quem Ele é, o que Ele fez, seu poder, sua soberania, sua sabedoria, e não há exercício maior para aumentar nossa fé do que pensarmos nos atributos de Deus.

Quando nossa noção de Deus vem à tona, nos tornamos pequenos e Deus se agiganta. E diante desta grandeza sem tamanho, nosso problema tende a se tornar igualmente pequeno.

Um Deus que é capaz de modelar tão perfeita natureza, por que não seria capaz de me socorrer na hora da angústia.

Além de tomarmos consciência de que Deus pode me socorrer, a contemplação nos leva a pensar melhor. Na hora do desespero sempre tomamos decisões precipitadas que podem mais tarde nos trazer consequências desagradáveis. Quando damos um tempo para nossa mente, ideias vão surgindo, opções que antes eram impossíveis vão se abrindo à possibilidade. Deus nos conhece e sabe que rendemos melhor quando estamos com a cabeça fresca e também por isso Ele nos convida a contemplar. É como se Ele chegasse no nosso escritório, no meio do caos, e nos chamasse para uma conversa no jardim. Chegando no jardim, ao invés de nos dar a solução daquilo que nos aterroriza, Ele começa a falar da beleza e da perfeição da sua criação. Explica a cadeia ecológica que existe em cada espécie do jardim, mostra os processos reprodutivos, mostra os processos adaptativos das diferentes espécies que lhes garantem a subsistência. Quando nos damos conta estamos envolvidos naquela atmosfera de paz e tranquilidade, e quando menos esperamos uma ideia surge e traz a solução para o problema.

A contemplação nos faz viajar em um mundo que é real mas que geralmente não enxergamos porque estamos muito atarefados tentando resolver nossos problemas. A contemplação nos leva ao mundo espiritual onde Deus está trabalhando e de onde sairá a solução para nossas inquietações. Ironicamente, a percepção deste "mundo espiritual" não se faz de outra maneira senão que através da observância das coisas materiais. Lírios do campo, aves do céu, Deus nos convida a olhar a criação e enxergar nela seu amor. Provavelmente não veremos anjos subindo e descendo do céu, não veremos um homem de branco e nem rajadas de fogo. Veremos uma simples flor a desabrochar e enxergaremos o poder de Deus e seu cuidado paterno.

Para entrarmos neste mundo "invisível" tão próximo de nós, precisamos nos desligar de nossas inquietações por um momento e nos deixar envolver pelo falar silencioso de Deus: Não tenha medo, eu cuido de você como cuido deste lírio.

O mundo e seu modelo desenfreado de vida nos diria para sairmos à luta, encararmos os problemas como desafios e vencê-los. A teologia da libertação nos diria que devemos simplesmente decretar nossa vitória e declarar que não temos problemas. Jesus nos insta a contemplar a sua criação como meio de revelar seu amor e cuidado. Jesus nos leva para um aparente ócio, mas que na verdade é o início de um recomeço com a certeza de que Ele tem todo o controle de nossas vidas.

Portanto, quando a dor se tornar insuportável a ponto de você cair nos extremos da apatia ou do ativismo, "deixe" este mundo por alguns momentos e faça de sua contemplação uma oração a Deus. Deixe que a voz calma e silenciosa do Criador ecoe em sua mente como o frescor suave de uma brisa tranquila em uma tarde de primavera. Na próxima chuva deixe que algumas gotas caiam em seu rosto como prova de que Deus ainda se lembra de você. Na próxima tempestade, observe as nuvens negras e ameaçadoras e lembre-se de que Deus te ama com a fúria de um tufão.

A vida se tornará mais bela, e mais fácil de ser enfrentada, porque sua mente se abrirá e verá que Deus está presente em cada momento de sua história, por mais simples que isso possa parecer.

Por fim, Deus não nos promete riquezas e luxos. Ele simplesmente promete que quando buscamos o seu reino em primeiro lugar em nossa vidas todas estas coisas nos serão acrescentadas. De que coisas Jesus está se referindo? Comida, bebida e vestuário. O que é isso senão o mínimo necessário para a nossa subsistência? Já ouvi muitas mensagens onde erroneamente o palestrante traduz como: todas as demais coisas. O texto não diz isso e se limita ao que foi citado no contexto por Jesus. Nenhum texto do Novo Testamento nos autoriza a pedirmos mais do que o necessário para nossa sobrevivência. A teologia da prosperidade não tem respaldo bíblico neotestamentário e interpreta de forma equivocada alguns textos do Antigo Testamento.

Andar com Jesus é um caminhar de fé onde a única certeza que teremos é que Ele nunca nos abandonará, por mais difícil que seja acreditar nisso. Se lhe dermos o devido lugar, Ele será nosso eterno companheiro de viagem, seja no deserto, seja no oásis, no bravo mar ou em terra tranquila. A sua presença nos basta.

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