quinta-feira, 26 de abril de 2012

O SERMÃO DO MONTE: A ORAÇÃO DO REINO

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á.
E qual de entre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra?
E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente?
Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?
Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.
Mateus 7:7-12

Disse-lhes também: Qual de vós terá um amigo, e, se for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois que um amigo meu chegou a minha casa, vindo de caminho, e não tenho que apresentar-lhe; se ele, respondendo de dentro, disser: Não me importunes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão comigo na cama; não posso levantar-me para tos dar; digo-vos que, ainda que não se levante a dar-lhos, por ser seu amigo, levantar-se-á, todavia, por causa da sua importunação, e lhe dará tudo o que houver mister.
E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á;
Porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á.
E qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente?
Ou, também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião?
Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?
Lucas 11:5-13


De onde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?
Cobiçais, e nada tendes; matais, e sois invejosos, e nada podeis alcançar; combateis e guerreais, e nada tendes, porque não pedis.
Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.
Tiago 4:1-3


Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.
Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto.
Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado.
Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim.
Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.
Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.
Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.
Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor.
João 15:1-9

O texto base é o de Mateus, que dá continuação ao que estamos estudando nas últimas semanas. Coloquei outros textos porque acho relevante entendermos alguns aspectos da oração que podem ser mal compreendidos e com isso gerar decepção.

O primeiro aspecto importante no texto é que devemos pedir. Jesus nos autoriza a pedir coisas materiais e espirituais. Pedir não implica em falta de fé, muito pelo contrário, pedimos porque sabemos que somente Deus pode nos dar aquilo que precisamos. Quando pedimos mostramos dependência de Deus e declaramos que somos incapazes por nós mesmos de realizar ou conseguir algo.

Muitas pessoas não pedem porque se acham indignas. Acham que não merecem nada além do que já têm e por isso não pedem. Este é o discurso, mas a realidade é que não pedem porque não tem intimidade suficiente com Deus para conhecê-lo e saber que Ele sente prazer quando seus filhos pedem. Não pedem porque desconfiam de sua fidelidade a Deus e pensam que pelos seus pecados, Deus não os ouvirá. Mas a verdade é que cometendo ou não pecados (óbvio que é impossível não cometê-los) Deus nos agracia com bens de qualquer forma, porque não é por merecimento, mas por graça que Ele nos concede aquilo que necessitamos. E é neste espírito que devemos chegar a Deus em oração, não deixando que nossos pecados nos impeçam de pedir a Deus, e não deixando que a vã idéia de que merecemos mais do que outros nos dê a arrogância de achar que Deus tem que nos atender. A graça independe do que fazemos ou deixamos de fazer, simplesmente porque é graça.

Muitos não pedem porque acreditam que sendo Deus onisciente, Ele não necessita de que peçamos porque já sabe com antecedência todas as coisas. Este argumento é interessante porque o próprio Jesus declara no capítulo 6 de Mateus, verso 32 que o Pai sabe do que necessitamos, então por que pedir?
Não pedimos por causa de Deus ou para que, através de nossa oração Ele nos atenda, pedimos por nós mesmos. Somos nós que precisamos pedir, somos nós que precisamos orar. Deus não precisa de nossa oração para agir, mas nós precisamos desse meio de comunhão com Deus para mantermos nossa fé viva.

Deus age de acordo com a nossa fé não por uma incapacidade ou limitação de Deus, mas porque precisa ensinar-nos a depender dele, e não existe outro meio de fazê-lo senão através da oração correta, onde Deus é o Senhor e nós completos dependentes do seu amor. Por isso que vemos muitos textos na Bíblia onde aparentemente Deus só age de acordo com a fé da pessoa e o próprio Jesus declara isso muitas vezes. Mas a verdade é que este agir condicional de Deus não é por causa dele, mas por nossa causa.
Por isso que o argumento de que não peço porque Deus já sabe não é válido. O raciocínio correto deveria ser. Peço porque sei que dependo deste meio para fazer com que minha mente se conscientize do cuidado de Deus para comigo. É meu intelecto e minha completa necessidade de ser ouvido que me fazem pedir.

Outro argumento para não se pedir é que, se Deus faz chover sobre maus e bons, derrama bênçãos sobre justos e injustos, por que então pedir? Se o picareta do meu vizinho recebe coisas boas vindas de Deus, mesmo sem declarar qualquer tipo de fé, sem freqüentar qualquer círculo religioso, por que vou então me esmerar em oração?
Primeiro lugar oramos não somente para pedir coisas. E talvez este devesse ser o último motivo pelo qual devêssemos orar. Oramos porque entendemos quem Deus é em nossas vidas. Oramos porque entendemos a necessidade de termos comunhão com Deus. Oramos porque entendemos que algumas benção Ele somente derrama sobre aqueles que um dia aceitaram o chamado do evangelho: perdão diário, paz, alegria no Espírito Santo, são dons e benção que Deus não concede a todos, mas àqueles que atenderam ao seu chamado.
O texto paralelo de Lucas fala sobre essas dádivas. Enquanto Mateus coloca dádivas em um sentido amplo, material e espiritual, Lucas coloca essas dádivas em um sentido totalmente espiritual dizendo que Deus jamais negará o Espírito Santo àqueles que lhe pedirem.

Então por que nem sempre conseguimos aquilo que pedimos?

A questão não é se Deus está pronto ou não para nos dar, mas se nós estamos prontos para receber.

Esta idéia fica muita clara na parábola que Jesus usa de um filho e seu pai. Apesar de mau, o pai nunca daria algo para o filho que fosse lhe prejudicar, a não ser que este fosse doente. Todo pai “normal” somente daria a seu filho o que fosse bom para ele. Se na nossa limitação, sendo maus como somos, temos uma ligeira consciência do que é bom ou não para nossos filhos, quanto mais nosso Pai celestial em toda a sua sabedoria, com certeza saberá o que devemos ou não receber. Esta parábola tem outro detalhe muito importante. Dependendo da idade da criança, esta poderá querer algo totalmente nocivo à sua saúde. Sem consciência do perigo, a criança pode querer colocar na boca um veneno por exemplo. Quantas vezes nós, crianças aos olhos do Pai, pedimos em oração algo que somente o Pai consegue enxergar lá na frente. Algo que causará muita dor e decepção. Por ser o Pai tão bondoso nos nega esse algo que aos nossos olhos soa como um fracasso ou uma perda, mas Deus vê como um livramento.

Há alguns textos na Bíblia que dizem que se pedirmos qualquer coisa segundo a vontade de Deus Ele nos concederá. Parece fácil mas não é. Quantas vezes nós realmente sabemos qual a vontade de Deus para as nossas vidas? Para algumas coisas talvez seja mais fácil, como por exemplo: eu sei que não é da vontade de Deus que eu vá para um motel com uma mulher que não seja a minha. Eu sei que não é da vontade de Deus que eu acenda uma pedra de craque porque desta forma estaria demonstrando nenhum respeito com meu corpo que é templo do Espírito Santo. Mas algumas coisas simplesmente não são fáceis de discernir. Já ouvimos isso no domingo: devo ou não comprar um carro? Devo ou não trocar de emprego? Devo ou não comprar aquela casa?
A minha opinião sobre estes assuntos triviais da vida é: na consciência de que somos pecadores, imperfeitos e que raramente conseguimos discernir de forma correta, peça a Deus, coloque diante dele a sua ansiedade, fale pra Ele o que você está sentindo ou pensando, mas não se esqueça de pedir pra que Ele tenha a palavra final sobre esse seu pedido, porque pode ser que esse desejo não seja justo e não esteja de acordo com a vontade de Deus. O que nunca devemos nos esquecer é que Deus somente vai nos dar aquilo que precisamos, aquilo que não nos fará mal, aquilo que pelo contrário nos fará bem, mas principalmente aquilo que for bom para o reino. Aí o bicho pega porque a maioria das coisas que pedimos é para o nosso deleite e quase nunca pensamos no reino. Verdade ou não é?

Com isso podemos ir para o texto do Tiago. Por que não temos muitas vezes aquilo que pedimos? Porque pedimos mal, para gastar com nossos deleites e paixões. Lembre-se que estamos dentro do sermão do monte, onde o axioma de interpretação é o reino de Deus, sendo assim, uma pergunta justa e sábia a ser feita antes de pedir qualquer coisa para Deus é: isso que eu quero é bom para o reino? Este meu desejo atende as prerrogativas do reino de Deus ou eu só quero para usufruir em prazer próprio?

E graças a Deus que ele não nos atende em tudo o que queremos, porque certamente isto seria um desastre em nossas vidas. Lembrei-me do filme O Todo-Poderoso quando “Deus” dá ao Jim Carey o poder de ser Deus por um período de tempo e o engraçadinho resolve conceder todos os desejos da humanidade e o mundo vira um caos. Todos os apostadores da loteria são premiados, não existe mais vencedores nos jogos, a vida perde o sentido de ser vivida. É por isso que eu acho que o sentido de resposta das orações de Deus precisa necessariamente passar pelo crivo do reino.

No último versículo, encontramos uma máxima que está em outros escritos, porém sempre de forma negativa “o que você não quer que os outros façam, não faça também aos outros” (Confúcio, apócrifos do AT, rabino Hillel). Mas Jesus traz esta mesma máxima de uma forma inovadora e positiva: o que vocês querem que os outros lhe façam, faça você também a eles. É positiva e extremamente significativa porque a máxima antiga diz para simplesmente não fazer, ou seja, eu posso simplesmente ficar indiferente com as pessoas e com isso cumpro a máxima, mas o evangelho não admite a indiferença, o evangelho exige ação no sentido de fazer o bem. Lembrando que este mesmo texto no evangelho de Lucas está no contexto de amar nossos inimigos. Isto é maravilhoso e extremamente chocante, não basta eu não fazer o mal para os meus inimigos, Jesus me insta a fazer o bem, o mesmo bem que eu gostaria que fizessem a mim.

Por isso que este sermão nas palavras do Stott é uma contracultura, porque quebra todo o nosso sentido de justiça e nos mostra que os seguidores de Cristo precisam levar uma vida totalmente diferente daqueles que não são.

No texto paralelo de Lucas, a parábola não está comparando o dono da casa que não queria ser importunado com Deus. A idéia é na verdade oposta. Se o amigo que não quer ser importunado, de tanta insistência acaba dando a você aquilo que você precisa, quanto mais Deus, que não é homem, não se incomoda de ser importunado e deseja agraciar-nos com suas bênçãos, nos dará o Espírito Santo. Esta é uma promessa fascinante de que Deus jamais negará seu Espírito àquele que aceita o seu chamado.

O último texto de João 15 também é precioso no sentido de que Jesus promete nos dar frutos se estivermos nele.
Como sempre temos dito, sempre que um texto dá uma idéia muito ampla, quase sem limites sobre qualquer assunto, quase sempre o próprio contexto está delimitando a amplitude da idéia. O verso 7 pode trazer a idéia de que estando em Cristo, poderemos pedir tudo o que quisermos e desejarmos a Deus e Ele nos concederá. Este versículo é muito usado pelo evangelho da prosperidade, e o argumento usado por eles quando não recebemos é que não estávamos em Cristo ou as suas palavras não estavam em nos. Mas a verdade é que esta é uma interpretação falsa. O contexto está falando de frutos e somente isso. Eu não posso querer extrair outro significado deste texto que não seja frutos.
Se você estiver em Cristo e as suas palavras estiverem em você, peça que Deus frutifique através da sua vida e Ele com certeza fará. Esta é uma oração infalível que Deus certamente responde. O que passar disso é por conta e risco.

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