quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

MALDIÇÃO DE POVO

"Então o sumo sacerdote e todos os seus companheiros, membros do partido dos saduceus, ficaram cheios de inveja. Por isso, mandaram prender os apóstolos, colocando-os numa prisão pública."

Companheiros, partidos, inveja, prisão pública. Parece coisa de político, e é.
A verdade é que quem faz o bem sempre enfrentará problemas.
Os apóstolos começaram a mexer com gente grande que não estava nem um pouco interessada em mudar a condição de vida da "gentalha", mas que também não admitia perder sua influência sobre as pessoas.
Afinal de contas, por que mexer com gente que o próprio Deus já amaldiçoou?
E quando a "gentalha" que havia sido "amaldiçoada por Deus" começa a ser curada e começa a se livrar de alguns demônios, isto gera alguns problemas para os religiosos.
Porque o pessoal do discurso adora teologizar. Será que foi Deus? E, se foi, por que Ele tiraria a maldição que Ele mesmo "havia colocado"? Mas se não foi Deus, só pode ser coisa do diabo. Mas o diabo pode fazer o bem?
E já que o concílio não chega a lugar algum, vamos prender todo mundo e tapar a boca deste povo.
Isso é coisa de político e não de cristão. Porque pra lidar com religião precisa ser político, mas pra se lidar com o evangelho precisa ser cristão.
O religioso tem medo dos maltrapilhos porque sua aparência e suas atitudes podem macular o "santo" ambiente eclesiástico. O cristão não tem medo de recebê-los porque se sabe como um deles e se reconhece em seus pecados e desvios de conduta.
O religioso não recebe os maltrapilhos e condena quem o faz, porque acredita com isto estar protegendo a integridade da "Santa" igreja. O cristão, ignorante de qualquer regra eclesial, não tem medo de conviver com essas pessoas, porque entende que é exatamente através da convivência e do amor que se expressa o verdadeiro evangelho.
O religioso construiu um pensamento meritocrático e, por isso, tenta classificar os pecados, mantendo os seus, obviamente, na base da escala. O cristão por sua vez, se entende tão miserável que não tem coragem de imaginar que exista qualquer tipo de classificação.
O bom em tudo isso é que o reino de Deus é construído por maltrapilhos e miseráveis e não por religiosos.
Aos religiosos, podem continuar em seus confortáveis templos longe do perigo da escória do mundo. Deixa essa preocupação com os cristãos.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

DESCOBERTAS

Descobri com o tempo que os discursos não convencem ninguém; no máximo irão arregimentar aqueles que já não tinham qualquer opinião. Mas esse tipo de convencimento não é válido; no próximo discurso bem elaborado, mesmo que repleto de falácias, essas pessoas mudarão novamente de "lado".

Descobri que quanto mais se luta contra alguma coisa, mais essa coisa ganha força e cresce. As nossas críticas alimentam mais ainda o fanatismo das convicções, não importa o quão absurdas sejam.

Descobri que as amizades sempre terão um quê de retribuição. Ninguém nos terá em apreço incondicionalmente, porque afinal de contas não somos Deus, somos humanos e fomos criados assim. E no campo das convicções, você terá amigos tanto quanto suas ideias concordarem. O oposto também é verdade, infelizmente.

Descobri que não é o revelar-se nua e cruamente ao outro que te faz verdadeiro, mas é o dizer as palavras certas na hora certa, ou talvez nem dizê-las. O revelar-se por completo revela quem você realmente é, e a maioria das pessoas não está interessada nesta descoberta; a maioria se afastaria de você.

Descobri que uma cosia muito boa na vida é o não almejar as riquezas. Isso te faz viver de forma leve e o torna um apreciador das pequenas ações.  O dinheiro é escravizador, por isso quem não o tem como um deus, vive melhor.

Descobri que não tenho mais medo de aprender. Aprendo a cada dia e à medida que aprendo, mudo o modo como penso. As minhas verdades estão sempre em construção e vão, juntamente com a maturidade, adquirindo novas nuances. Mas, independente de serem renováveis, sempre são verdades, porque também aprendi que ninguém vive bem sob a angústia da dúvida. Por isso, tenha as suas verdades, a cada dia.

Descobri que o arriscar-se é melhor que o acomodar-se. Quando se arrisca você no mínimo conhece novas pessoas, novas opiniões, cria novas oportunidades e cresce como ser humano. O acomodar-se nos faz indiferentes a outras realidades. Quando nos arriscamos, diminuímos a chance de sermos manipulados por aqueles que querem nossa alienação.

Descobri que não posso viver de nostalgia porque fatalmente estaria mais propenso a cometer velhos erros. Mas aprendi também que não posso ignorar meu passado. Ele é tudo aquilo no que me tornei hoje, sem mais nem menos. Por isso, dou risada de tudo que aconteceu, mesmo das coisas ruins, porque se posso rir é porque ainda estou vivo.

Descobri como é bom e libertador dizer não àquilo que me incomoda. Não somos obrigados a agradar a todos e nem a nos tornarmos infelizes para satisfazer desejos alheios. Dizer não te põe novamente no controle da sua vida. Não se preocupe, os amigos verdadeiros continuarão ao seu lado.

Descobri tantas outras coisas; algumas que nem posso dizer. Mas essas são minhas descobertas. Espero que tenha as suas e que elas façam tão bem a você como as minhas fazem a mim.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

SOBRE BODES DOENTES E OVELHAS VELHAS


Da multidão dos que creram, uma era a mente e um o coração. Ninguém considerava unicamente sua coisa alguma que possuísse, mas compartilhavam tudo o que tinham. Com grande poder os apóstolos continuavam a testemunhar da ressurreição do Senhor Jesus, e grandiosa graça estava sobre todos eles. Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um. José, um levita de Chipre a quem os apóstolos deram o nome de Barnabé, que significa encorajador, vendeu um campo que possuía, trouxe o dinheiro e o colocou aos pés dos apóstolos.

Um homem chamado Ananias, juntamente com Safira, sua mulher, também vendeu uma propriedade. Ele reteve parte do dinheiro para si, sabendo disso também sua mulher; e o restante levou e colocou aos pés dos apóstolos. Então perguntou Pedro: "Ananias, como você permitiu que Satanás enchesse o seu coração, a ponto de você mentir ao Espírito Santo e guardar para si uma parte do dinheiro que recebeu pela propriedade? Ela não lhe pertencia? E, depois de vendida, o dinheiro não estava em seu poder? O que o levou a pensar em fazer tal coisa? Você não mentiu aos homens, mas sim a Deus". Ouvindo isso, Ananias caiu e morreu. Grande temor apoderou-se de todos os que ouviram o que tinha acontecido. Então os moços vieram, envolveram seu corpo, levaram-no para fora e o sepultaram. Cerca de três horas mais tarde, entrou sua mulher, sem saber o que havia acontecido. Pedro lhe perguntou: "Diga-me, foi esse o preço que vocês conseguiram pela propriedade? " Respondeu ela: "Sim, foi esse mesmo". Pedro lhe disse: "Por que vocês entraram em acordo para tentar o Espírito do Senhor? Veja! Estão à porta os pés dos que sepultaram seu marido, e eles a levarão também". Naquele mesmo instante, ela caiu aos pés dele e morreu. Então os moços entraram e, encontrando-a morta, levaram-na e a sepultaram ao lado de seu marido. E grande temor apoderou-se de toda a igreja e de todos os que ouviram falar desses acontecimentos. Atos 5:1-11

O texto fala da vida da igreja primitiva. Lucas, de forma proposital, coloca em paralelo três personagens, José cujo apelido era Barnabé (aquele que gostava de ajudar) e um casal, Ananias e Safira.
O povo que morava em Jerusalém começava a passar por uma crise política e financeira, prenúncio da destruição que estava por vir, e aqueles que estavam se convertendo ao evangelho passavam pela mesma crise (a igreja não está isenta dos males desse mundo). Por isso, os irmãos começaram a se ajudar e aqueles que tinham mais ajudavam os que tinham menos, mostrando sua lealdade aos ensinamentos de Jesus.
Essa ajuda era voluntária, ninguém estava obrigado a fazê-la.
O casal citado acima prometeu doar todo o valor da venda de uma propriedade, mas reteve parte do valor para eles, talvez acostumados com os vícios da antiga religião, onde os bodes e ovelhinhas sacrificados já não eram tão puros como deveriam ser.
O costume começou a se alastrar porque afinal de contas nada acontecia mesmo; aparentemente Deus estava aceitando tudo numa boa.
Então tudo aquilo que não servia mais era levado ao sacrifício; ovelhas doentes e velhas começaram a substituir a pureza do sacrifício. E não é que Deus não ligava, Ele apenas  havia abandonado a religião à sua sorte. Deus havia fugido do "Templo".
O casal achou que poderia continuar com os mesmos vícios e roubou uma parte do dinheiro que havia sido prometido, e por isso morreram.
Você pode achar muito cruel, mas na verdade a morte física foi só uma manifestação daquilo que já havia acontecido em suas almas; eles já estavam mortos há muito tempo.
Como não existem mais histórias na Bíblia de pessoas que morreram pelo mesmo motivo, resta-nos entender este fato como um princípio do evangelho. E o princípio é simples: no cristianismo não dá pra se viver uma vida de enganação, porque na verdade não se engana as pessoas mas a Deus, e Deus não se deixa enganar.
E aqueles que estão usando do evangelho para benefício próprio, vivendo como se Deus não se importasse ou nem existisse, estão como o casal, mortos espiritualmente.
E o sinal mais evidente daqueles que estão vivos é o temor a Deus (...e grande temor apoderou-se de toda a igreja e de todos os que ouviram falar desses acontecimentos...). Temor aqui não significa medo, mas conhecimento de Deus. E quanto mais eu o conheço, mais eu o amo e menos medo eu tenho.
Quanto mais amor, menos medo. Quanto menos medo, mais temor.
Aquele que não o conhece, acha que pode mentir para Ele e por isso não há temor neste coração; talvez apenas medo de ser descoberto.
A questão aqui não é pelo dinheiro, mas pela mentira, por achar que se pode tratar o evangelho de Jesus com fraude e arrogância, como quem está acima de qualquer consequência.
Pode continuar na "igreja" trazendo seus bodes doentes e suas ovelhas velhas, mas saiba que já está morto; o enterro é mera consequência.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

CREMOS REALMENTE NA GRAÇA?

Graça é um termo cristão. É o favor que recebemos de Deus sem merecermos. Nossa fé nos diz que todo relacionamento de Deus para com os seres humanos é tão somente baseado na graça. Isto quer dizer que não há nada que você faça ou deixe de fazer para merecer mais ou menos o favor de Deus.
O conceito é até certo ponto simples de entender mas extremamente difícil de ser vivido, porque todos os relacionamentos que criamos são baseados em trocas. Gostamos de quem gosta de nós, favorecemos a quem nos favorece, e por consequência odiamos quem nos odeia. Foi assim que fomos construídos como indivíduos em regra geral. Por isso que ajudar quem não nos tem em apreço é muito custoso, visto que vai ao encontro de nossa formação como pessoas e, por isso, necessita de vontade de nossa parte, já que não é algo que flui naturalmente.
Como cristãos, falamos na graça, a defendemos, veneramos aqueles que a sistematizaram como doutrina (coisa que não deveríamos fazer), mas na hora de viver nossa espiritualidade baseados nela, sempre colocamos algo a mais.
E a religião está recheada destes algo a mais. TODOS, indistintamente, colocam muitos "algo a mais" na graça: ortodoxos, fundamentalistas, liberais ou pentecostais, todos eles criaram e criam mecanismos de adesão ou engessamento que são na verdade penduricalhos à graça, que deveria ser e é um conceito pleno e suficiente. Ela não precisa de adereços e não suporta qualquer adendo.
A própria liturgia é um adereço quando entendida como essencial e imutável. Porque ela engessa, condiciona e dita um modo "como deve ser vivida a espiritualidade" que é única e individual. E o que nela (a liturgia) ocorre são muitos adereços dentro do maior. Porque via de regra, as pessoas defendem com unhas e dentes o seu modo "correto" de adorar. A sua música é a certa, a sua Bíblia é a melhor, a sua interpretação é a correta e por aí vai. E sempre que eu coloco o meu modo de exteriorizar a minha espiritualidade como o melhor ou o correto, automaticamente eu digo que o seu é o pior ou o errado, e nesse ponto a graça foi pro brejo porque ela deixou de ser suficiente, ou seja, eu preciso da graça, mas também preciso cantar essa música, orar deste jeito, acreditar nesta ou naquela interpretação deste ou daquele texto, e quando me dou conta, a graça que deveria ser pura está contaminada com pressuposições e interpretações humanas e autoritárias. Deixou de ser graça.
A graça é tão pura e tão livre que também me faz viver de forma pura e livre. Pura não no sentido de imaculada, mas no sentido de independência irrestrita e descompromissada com os adereços.
A graça não me faz santo e nem cafajeste. A graça me faz sensível ao meu próprio mal. E quando este mal vem à tona eu não fico indiferente e nem temeroso com o castigo de um "deus" furioso, mas eu sinto dor, daquelas dores de quem entristece um amigo por quem é amado sem ter nada que fazer para reparar o erro. Daquelas dores que a gente sente na hora da morte de um ente, porque sabe que poderia ter sido melhor do que foi.
Essa é a graça que eu acredito, que é maior que tudo porque é baseada no amor maior.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

O JESUS HISTÓRICO - "Um cadinho de Teologia"

O JESUS HISTÓRICO (out 2009)



Introdução
Este tem sido um tema controverso e causador de muitas polêmicas. A pessoa de Cristo sempre foi alvo de especulações e por isso, não era de se admirar que não só sua deidade, mas também a historicidade de Jesus fosse questionada. Esse questionamento iniciou-se por vota do século XVII, onde as pessoas não mais aceitavam os modelos de interpretação propostos até então e começaram, principalmente na Europa, dar início a questionamentos sobre a pessoa de Cristo. A pergunta da problemática é mais ou menos esta: Temos base histórica objetiva suficiente para acreditar na pessoa de Jesus Cristo?
Este trabalho se propõe a discutir esse dilema sob a perspectiva de alguns autores que se dispuseram a defender a historicidade de Jesus, sob a qual sua obra e sacrifício se apóiam.


A Problemática
Schillebeeckx afirma que esse interesse moderno pelo Jesus histórico na verdade, não é conseqüência da moderna consciência histórica, mas é questão essencial para o cristianismo, porque confessamos na fé acerca do homem histórico, Jesus de Nazaré, e não acerca de figura mítica, que Ele é o Messias ou o Cristo. O que o autor na verdade está querendo dizer é que a necessidade desta investigação está na própria necessidade cristã de crer em um Jesus que viveu como homem, cresceu e morreu como tal. Para que a obra de Jesus pudesse ser eficaz, havia a necessidade da encarnação; Deus precisava tomar a forma humana para salvar o homem. Isto não poderia ser feito por um espírito e muito menos inventado por uma histórica de mitologia.
Nos vários momentos do cristianismo, Jesus assume um significado particular que estava em boa parte relacionado com a idéia e o conceito que as pessoas faziam dele. Por exemplo, na carta aos Hebreus, Jesus é o sumo sacerdote celeste. Na idade média e alta, Jesus é aquele que trouxe propiciação e nos redimiu. Já o iluminismo viu nele a imagem por excelência da moralidade humana e assim por diante.
Da mesma forma, podemos, a partir de cada experiência de conversão, fazer nosso próprio conceito a respeito de Jesus, o que não significa ser este conceito fidedigno de quem Jesus realmente foi enquanto Homem-Deus. Daí vem a importância da questão histórica: Quem foi realmente Jesus de Nazaré?
O estudo livre das Escrituras, isto é, à parte e sem a tutela da igreja, foi motivo de muita crítica e relutância por parte da igreja que temia que o método histórico-crítico pudesse criar um abismo entre o Jesus histórico e o Cristo da fé. Essa relutância, no entanto, foi deixando de ser, na medida em que a própria igreja via na pesquisa, um meio de reafirmar a pessoa de Cristo, de forma empírica e histórica.
Todavia, parece que toda a questão em cima do Jesus histórico e do Cristo da igreja, era menos cristológico e mais uma luta contra a patente exclusivista de interpretação das Escrituras.